Meus leitores, por que toda vez que precisamos
muito de algo, esse algo não funciona direito? Lei de Murphy? Que nada! Deve
haver um diabrete que anota tudo e, apenas com o intuito de fazer pilhérias,
mexe o rabinho e nos deixa fulos da vida.
Certa noite, cheguei em
casa, fiz tudo o que tinha que fazer e me sentei em frente ao notebook para
escrever o meu livro. Quem disse que a internet entrava? Nem com reza braba
a minha amiga americana criada pelos milicos dava o ar da graça. Fazer o quê
então? Ligar para o telemarketing, a fim de resolver o meu problema, como se os
abnegados atendentes fossem soldados de Deus, com asas aqui na Terra, com a
única função de nos salvar..
Liguei e fiquei ouvindo
toda a obra do grande músico austríaco Ludwig Van Beethoven, pelo menos não era
apenas Para Elise (a tradução é minha mesmo, desculpem-me se errei). Quem me
atendeu foi uma menina de nome ininteligível, que logo foi me perguntando o meu
nome, cpf e o problema. Nem acabei de falar e ela me avisou que eu ia ser transferido
para o suporte técnico. Ela assim o fez e rapidamente fui atendido.
Narrei tudo de novo,
mas desta vez notei que o rapaz que me atendeu estava com uma voz um pouco
embargada, soluçando e fungando o nariz. Perguntei o que estava havendo. Antes
de terminar a pergunta, ele começou a desabafar.
− Me desculpe senhor
(já começou errado), mas só hoje já me chamaram de atendente de merda,
telefonista de merda, fillho da puta da... Esses são apenas alguns adjetivos e
cognomes dados a nós, pedrestinados atendentes de telemarketing receptivo do
suporte técnico.
Não tive chance nem de
esboçar um a tá. Ele já emendou em outra rajada
− Na verdade, não
fazemos parte do staff da operadora para qualquer benefício de seus serviços,
mas na hora de cobrar a nossa dedicação usam a força do nome da operadora para
nos persuadir e fazer qualquer das milhares de promessas vãs e mentirosas.
Quando ouvi isso
comecei a me interessar sobre os problemas do meu jovem paciente. Nossa deve
ter descido em mim o espírito de Freud. Hi freudeu! Mostrando interesse pedi
que continuasse a me contar tudo que quisesse. Ele parou por um momento e
parecendo estar meio ressabiado, respirou e continuou.
− Meu senhor (me chame
de psicoamigo), mas não há somente escravidão e chibatadas emocionais. Ouvimos
cada nome engraçado de clientes, ignorância e falta de domínio de alguns
clientes, sobretudo, em relação ao uso da internet
Nessa hora confesso que
engoli seco, pois seria eu mais um dentre os ignorantes? Agora quem respirou
fundo fui eu e pedi que ele continuasse.
− Certa vez uma cliente
ligou e eu a atendi. Ela reclamava que alguém de nome NORTON de nossa operadora
não a deixava navegar na internet, pois a cada tentativa dela de acessar um
site, o tal de NORTON mandava uma mensagem dizendo que este site pode não ser
seguro para a navegação. A cliente ligou cheia de raiva e queria briga com
isso, queria saber quem era o NORTON e falar com ele e se ele não falasse com
ela, ela iria processar a operadora. Na verdade, NORTON é somente o antivírus
dela que estava plenamente ativado e a indicava a possível falta de segurança
na navegação de alguns sites.
Nossa! Pelo menos isso
eu sei. Achei-me até um expert diante dessa pobre usuária das maravilhas de
nossos dias.
− Senhor, alguns
clientes acham que somos deuses da informática e que podemos invadir seus
computadores para fazermos alguns reparos. Um senhor, inadimplente totalmente,
com a internet cancelada por falta de pagamento, queria que eu fizesse a
internet dele funcionar. Eu discuti com ele e disse que não era Deus nem Jesus
para fazer milagres. Ele me xingou e passei a ligação para a minha supervisora,
pois eu estava entrando em pausa lanche de 20 minutos. Retornei da pausa após
os 20 minutos e a supervisora, suando, ainda estava com o caloteiro religioso
na ligação e ainda ficou por mais 10 minutos.
Eu olhei o relógio e já
estávamos há mais de 20 minutos no telefone. Mas motivei o meu novo amigo a
falar mais.
− Senhor, um dos
procedimentos para tratamento de internet é a pessoa estar na frente do
computador. Eu mesmo atendi uma cliente que além de não estar na frente do
computador, estava em algum lugar tão longe que teve que pegar o carro e
dirigir até o computador. Ela falava comigo no celular e dirigia. Claro que
comecei a pilhéria e disse a ela para ter cuidado com multas, pois dirigir e
falar no celular dá multa de trânsito, isso depois de explicar a ela que eu só
poderia dar prosseguimento ao atendimento se ela estivesse de frente ao
computador. Ela grossa igual a um touro raivoso, achou que deveria ter
tratamento diferenciado dos outros clientes, mas ela era igual a todos, nem
melhor nem pior, apenas mais uma.
O rapaz, após o
desabafo sem divã, já melhorara a voz e até respirava normal. Pude então
reitera-lo sobre o meu problema. Ele prontamente me respondeu:
− Senhor, isso é fácil
(nossa me deu um atestado de ignorante analfabético informático). Entre no
painel de controle, vá a ferramentas administrativas, clique em liberar espaço
em disco, quando aparecer uma nova janela, deixe clicado o que estiver clicado
e clique em arquivos temporários e relatórios de erros, depois clique em ok,
quando acabar tente entrar na internet.
Fiz todo o procedimento e não é que
deu certo. O Google Chrome entrou rapidamente. Agradeci. Ele me pediu desculpas
pelo desabafo. Desliguei. Fiquei pensando: amanhã bem cedo vou me inscrever em
algum curso sobre internet.
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