sábado, 10 de outubro de 2015

Telemarketing. (consta do livro A Batalha dos Neurônios)

Meus leitores, por que toda vez que precisamos muito de algo, esse algo não funciona direito? Lei de Murphy? Que nada! Deve haver um diabrete que anota tudo e, apenas com o intuito de fazer pilhérias, mexe o rabinho e nos deixa fulos da vida.
            Certa noite, cheguei em casa, fiz tudo o que tinha que fazer e me sentei em frente ao notebook para escrever o meu livro. Quem disse que a internet entrava? Nem com reza braba a minha amiga americana criada pelos milicos dava o ar da graça. Fazer o quê então? Ligar para o telemarketing, a fim de resolver o meu problema, como se os abnegados atendentes fossem soldados de Deus, com asas aqui na Terra, com a única função de nos salvar..
            Liguei e fiquei ouvindo toda a obra do grande músico austríaco Ludwig Van Beethoven, pelo menos não era apenas Para Elise (a tradução é minha mesmo, desculpem-me se errei). Quem me atendeu foi uma menina de nome ininteligível, que logo foi me perguntando o meu nome, cpf e o problema. Nem acabei de falar e ela me avisou que eu ia ser transferido para o suporte técnico. Ela assim o fez e rapidamente fui atendido.
            Narrei tudo de novo, mas desta vez notei que o rapaz que me atendeu estava com uma voz um pouco embargada, soluçando e fungando o nariz. Perguntei o que estava havendo. Antes de terminar a pergunta, ele começou a desabafar.
            − Me desculpe senhor (já começou errado), mas só hoje já me chamaram de atendente de merda, telefonista de merda, fillho da puta da... Esses são apenas alguns adjetivos e cognomes dados a nós, pedrestinados atendentes de telemarketing receptivo do suporte técnico.
            Não tive chance nem de esboçar um a tá. Ele já emendou em outra rajada
            − Na verdade, não fazemos parte do staff da operadora para qualquer benefício de seus serviços, mas na hora de cobrar a nossa dedicação usam a força do nome da operadora para nos persuadir e fazer qualquer das milhares de promessas vãs e mentirosas.
            Quando ouvi isso comecei a me interessar sobre os problemas do meu jovem paciente. Nossa deve ter descido em mim o espírito de Freud. Hi freudeu! Mostrando interesse pedi que continuasse a me contar tudo que quisesse. Ele parou por um momento e parecendo estar meio ressabiado, respirou e continuou.
            − Meu senhor (me chame de psicoamigo), mas não há somente escravidão e chibatadas emocionais. Ouvimos cada nome engraçado de clientes, ignorância e falta de domínio de alguns clientes, sobretudo, em relação ao uso da internet
            Nessa hora confesso que engoli seco, pois seria eu mais um dentre os ignorantes? Agora quem respirou fundo fui eu e pedi que ele continuasse.
            − Certa vez uma cliente ligou e eu a atendi. Ela reclamava que alguém de nome NORTON de nossa operadora não a deixava navegar na internet, pois a cada tentativa dela de acessar um site, o tal de NORTON mandava uma mensagem dizendo que este site pode não ser seguro para a navegação. A cliente ligou cheia de raiva e queria briga com isso, queria saber quem era o NORTON e falar com ele e se ele não falasse com ela, ela iria processar a operadora. Na verdade, NORTON é somente o antivírus dela que estava plenamente ativado e a indicava a possível falta de segurança na navegação de alguns sites. 
            Nossa! Pelo menos isso eu sei. Achei-me até um expert diante dessa pobre usuária das maravilhas de nossos dias.
            − Senhor, alguns clientes acham que somos deuses da informática e que podemos invadir seus computadores para fazermos alguns reparos. Um senhor, inadimplente totalmente, com a internet cancelada por falta de pagamento, queria que eu fizesse a internet dele funcionar. Eu discuti com ele e disse que não era Deus nem Jesus para fazer milagres. Ele me xingou e passei a ligação para a minha supervisora, pois eu estava entrando em pausa lanche de 20 minutos. Retornei da pausa após os 20 minutos e a supervisora, suando, ainda estava com o caloteiro religioso na ligação e ainda ficou por mais 10 minutos.
            Eu olhei o relógio e já estávamos há mais de 20 minutos no telefone. Mas motivei o meu novo amigo a falar mais. 
            − Senhor, um dos procedimentos para tratamento de internet é a pessoa estar na frente do computador. Eu mesmo atendi uma cliente que além de não estar na frente do computador, estava em algum lugar tão longe que teve que pegar o carro e dirigir até o computador. Ela falava comigo no celular e dirigia. Claro que comecei a pilhéria e disse a ela para ter cuidado com multas, pois dirigir e falar no celular dá multa de trânsito, isso depois de explicar a ela que eu só poderia dar prosseguimento ao atendimento se ela estivesse de frente ao computador. Ela grossa igual a um touro raivoso, achou que deveria ter tratamento diferenciado dos outros clientes, mas ela era igual a todos, nem melhor nem pior, apenas mais uma.
            O rapaz, após o desabafo sem divã, já melhorara a voz e até respirava normal. Pude então reitera-lo sobre o meu problema. Ele prontamente me respondeu:
            − Senhor, isso é fácil (nossa me deu um atestado de ignorante analfabético informático). Entre no painel de controle, vá a ferramentas administrativas, clique em liberar espaço em disco, quando aparecer uma nova janela, deixe clicado o que estiver clicado e clique em arquivos temporários e relatórios de erros, depois clique em ok, quando acabar tente entrar na internet.
            Fiz todo o procedimento e não é que deu certo. O Google Chrome entrou rapidamente. Agradeci. Ele me pediu desculpas pelo desabafo. Desliguei. Fiquei pensando: amanhã bem cedo vou me inscrever em algum curso sobre internet.

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